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terça-feira, 28 de março de 2017

Mais sobre clarice

Assim como as luzes do anoitecer e as luzes da noite me veio a lembrança do amor que tive…. Do amor vivenciado, do amor criado exatamente por mim…. Porque nesses tempos temos que criar a nossa realidade de tudo. Seria pseudo realidade? Nao sei…. Nem concordo com as coisas que falo…. Os dias sao tao longos e as vezes bem rapidos que eu nao consigo conceber ou acompanhar. Eu queria ter uma filha, mas o Arg nao quis pra gente. E eu fiquei gravida por mim e por todas as mulheres que possuem um utero e precisam procriar. E meu utero tava vazio. Sem meu choro. Sem minha alegria. Sem a minha alma. Muitos dias se passaram sem que eu pudesse vislumbrar a falta dele. Mas é uma falta tao grande que começa a contrair meus musculos, meus dedos que se contraem ao se aperceber que nao sao completos ou perfeitos sem ele. Minha cabeça cria imagens disformes do que deveria ser, do que a magnitude da realidade possa impor. O tempo passou e com ele eu junto…. Minha pele não é mais a mesma. O rosto dos meus amigos mudou. A minha percepçao abdominal diz que esse mesmo tempo corroeu tudo. Os amigos de quase sempre nao são os mesmos e eu tenho a nitida sensaçao que os amigos que escolhi podem ser perfeitos pra eles, em sua maioria, mas os melhores me querem gravida. Eu tenho que ter uma filha e ela ta aqui dentro, me esperando…. Os amigos perfeitos nao querem dinheiro nem a minha filha que nao nasceu. Clarice me busca o tempo inteiro. E eu acabo por dizer que vou busca la em breve. Acordei sem que o dia sorrisse pra mim, e a maldade do mundo vislumbrando o terror da ignorancia. Tenho que chorar. Chorar muito pois nao tenho mais a mim nem ao Arg, nem o mundo. Sinto uma perda universal. Porque a nossa filha nao nasceu. A vida se esvai com a idade que nao tenho, que nao quero e que sinto. Tenho um amor que criei, tenho um irmao que veio, tenho a você que nunca mais sera meu, porque nao me queres e nem eu a ti. Eu, uma femea dotada de vontades e quereres e criatividade conheci esse homem que retira as minhas palavras, e nao entende o que eu falo quando sou pernostica, como ele. De repente ele me vem com o olhar caridoso e afetivo de quem quer casar logo em seguida. Como se casar fosse assim. O meu pai guardou muito dinheiro para dar um dote e que fosse comprada a nossa casa depois que casassemos. E nao quisemos casar…. Eu falei pro Arg que isso nao representa nada, um papel de bosta. Amar e querer ficar junto esta alem do papel. E assim nos casamos sem papel mas seguindo as nomenclaturas das nossas familias, sem dote e sem a concordancia deles, um casorio simples e de poucas costuras. Logo apos o casorio o diabo veio fazer sua parte ao querer me sem que eu tivesse prometido nada. Nao dei minha alma. Nao dei nada e nem sabia disso. O tempo tem ido com a minha desafeiçao de tudo. Converso sempre com o Arg e percebo que sua percepçao continua invisivel. Peço diariamente aos anjos que tragam clarice. De repente me aparece uma figura esqualida que mostra a filha que nao terei, porque posso ter. A morte finistica acabou por me abraçar sem que eu quisesse, mas o Arg possui o dom de quebrar a dureza de tudo…. E quase quebrou a vida de clarice. E adiante ele deu as honras que eu precisava para querer ser mae. Sem glamour. Fui elevada. Estou diante da morte. E assim ele me elevou mesmo eu estando diante da morte.... uma palavra proscrita, pois não se deve falar do fim mas do começo e do grande meio.... das grandes perdas. E assim mesmo acordada na noite sem fim, escura sem pudor e sem prazer me vi sem roupa quase estuprada pelo tempo, pela noite e por mim mesma. E assim quis ver as estrelas que brilhavam no céu para iluminar a escuridão da minha alma. E as gotas de chuva que caiam sem ressentimento do que sinto e do que sou me tornam mais desumana. E só sinto minha voz calada latejando no meu pensamento fantasmagórico e reticente do que eu faço do corpo. E ainda espero que a alma, meu pensamento, recrudesça e se torne a minha voz calada pra mim. Somente para ouvir meu grito de vida ou de morte, pra mim mesma. Clarice foi concebida nesse torpor de amor meu, por mim e por ela e não pelo resto e não por Arg. Arg é morto pra mim como já estava há muito tempo. Nosso amor ou dele, se havia, não justifica nada, somente o fato da fertilização de clarice, que quero e está aqui dentro de mim. Fiquei de pernas pra cima com o esperma violento dele, não me trouxe nenhum prazer. Os homens acham que a velocidade e o torpor trazem prazer pras mulheres e pra mim em especial nunca trouxe. Desde a primeira vez que dei, que fui deflorada. Passei a achar que sexo era uma coisa que dizem prazerosa era uma coisa que o mundo traria pra mim, depois que desisti disso resolvi querer somente o esperma para ter clarice. Estou gravida. O tempo quente me abate a cada dia. Sinto que Clarice também nao gosta, sinto seu sufoco dentro de mim querendo se libertar e eu a ela. Pois dói o calor externo pra mim e interno pra ela e sua vontade de não estar mais lá. Eu só precisava do esperma do Arg e dalí veio Clarice escondida dentro de mim. Parece muito comigo e muitas vezes não. Tenho que sobreviver ate Clarice vir a este mundo insano que nao quero apresenta-la. Mas Clarice virá, seja tarde ou noite. Não venha de manha. Eu nasci de manha e os conhecedores de astrologia dizem que são pessoas que pensam no mundo como uma magica. E o mundo não é magico, não quero que ela veja isso. Quero que Clarice veja o mundo do avesso, com as cordas vocais enviesadas. Que grite ao nascer e saiba que mesmo sendo uma coisa dentro de mim, estaria melhor dentro de mim nesse tempo. E que aqui fora tudo mudara desde o primeiro ar inspirado. E que grite muito, para que eu ouça o seu pavor e reconhecimento de oferecer o meu leite para aturdi-la desse mundo vil. Arg viajou nesse tempo. Pros confins do mundo subterraneo. Não tinha morrido, só foi convidado a presenciar as orgias hadianas. Sem vinho, pois bacco nao estava la. Era quente pois hades impera naquele lugar. E Arg nao conseguia pagar a conta de luz, enquanto eu pagava a água que ele bebia para não queimar nos lugares subterraneos de Hades. Das espumas do mundo me veio Clarice com pele negra e reluzente. E eu com dor e indo pro rio ao encontro de Hades por estar de quarentena sem remedio. O sangue pressionou o meu corpo pois nao busquei os doutores da época. Eu só queria ver Clarice. E quando aquele olhar vívido e direto me veio, eu sabia que teria que embarcar com Caronte, mesmo que meu leite estivesse a escorrer de mim. Não se deve beber do leite de uma condenada ao mundo subterraneo. Morri. Nasce Clarice. - Clarice. Naquela tarde que parecia de temporal e que tava tudo escuro e, eu olhando pelas telas da janela. Eu tenho telas de galinheiro nas janelas, pois foi o que pude fazer pros meus gatos nao sairem e tentarem suicidio gratuito. Os felinos possuem essas normas de suicidio sem querer. E sofregamente depois de uma meia garrafa de vinho olho pela janela com telas de galinheiro e lembro da minha mãe, pois tem sol, não gosto de calor, mas gosto da luz que o sol do final do dia trás. Essa cidade estoica que vivo possui esses pudores de mostrar um momento como tá meu coração e seguidamente mostra a luz que sempre possui, só pra me irritar e dizer que não tenho que pensar no meu passado, na minha mãe. Acho que possuo um lado escuro, acho que todo mundo tem, mas tenho um lado claro também. Deve ter sido por isso que minha mãe me chamou de clarice, uma claridade inoportuna. Sou uma mulher de escuridões mentais minhas. E de clareza quando quero e as vezes isso acontece. Isso me vem. Mas que clareza é essa? Trouxe da minha mãe o desejo de pintar, de aprender sobre as cores. Toda mãe e família que vem dos olimpianos trazem uma educação que tudo tem de ter. Ouvir as boas melodias. Olhar as belezas que os homens comuns conseguem expressar com pigmento e papel ou outro meio exacerbatório de expressão. Eu lembro sempre do cheiro daqueles pictoricos elementos de madeira com pigmento de pessima qualidade pra desenhar na escola. Como eu não tinha pai nem mãe aprendi a viver com as parcas coisas que eu poderia ter ao longo da vida, sem saber que a deusa das artes me daria os melhores materiais que eu não saberia usar, mas me disse que isso viria com o tempo. Nunca fiquei muito satisfeita com isso. Mas eu lembro daquele odor meteorico que ficaria gravado no meu nariz. E esse cheiro sempre me trouxe prazer pelas pequenas coisas e grandiosamente pelo que representava. Lembrando da infancia que tive e não tive. Lembro da Branca, a rainha que minha mãe respeitava e admirava, que me mostrou cadernos coloridos com espirais que serviam para segurar as paginas. E eu ganhei um com paginas em branco e aquilo era mágico, mesmo que eu não acreditasse em mágica, eu só sabia que o mundo iria acabar em fogo e eu já tinha chorado por isso e nao valeria mais a pena pensar nisso. O senhor idoso da vila já tinha posto fogo na floresta pra que tudo renascesse. Mas aquilo me trouxe o sentimento que o mundo iria acabar em fogo. E naquele momento o que me dava alento era um lençol sujo e com meu cheiro, como as coisas que os cães fazem, deixam seu cheiro em objetos proximos por pura proteção. E aquele lençol fedido era minha proteção e eu só queria sentir aquele odor que era de mim mesma por pura proteção e, encontrar um lugar que eu conhecia, mas quando o fogo chegasse, eu iria fechar os olhos e abraçar o meu cheiro, aquilo que eu conhecia e mentia protegida. Tempos depois, descobri que a melhor proteção das adversidades do monstruoso mundo, somos nós mesmos. Eu lembro quando quem cuidava de mim lavava aquele tecido sujo e cheiroso pra ser lavado e longe de mim, era uma noite sem dormir, pois eu achava que depois daquilo eu nao mais poderia dormir, e ficava noites sem fim com medos, dos monstros noturnos, a espera de uma salvação. E nessas noites eu tinha saudades da minha mãe e do meu pai que nunca conheci. Só pra que eles me protegessem das noites escuras e sem mim mesma, e do fim do mundo. Eu ainda não sabia que o meu fim do mundo veio junto no dia em que nasci, pois como a mais idosa da vila dizia que ninguem vem a esse mundo pra ser semente, a não ser que semeie…. E pelo meu nascimento, eu decidi nao ser semeadora…. Eu não quero nada que venha de mim….. muito menos minhas germinações…. Inadequadas.

Escrevendo um romance que é uma historia sobre clarice

Um tempão de merda de tempo que estou fora e agora vou escrever sobre a clarice, uma personagem perdida, sem pai nem mãe. Que começa hoje as postagens dela e pra ela.